CAIRO, 04 Jul 2013 (AFP) - Um juiz pouco conhecido, Adli Mansur, prestou nesta quinta-feira juramento como presidente interino do Egito um dia após o exército derrubar o presidente islamita Mohamed Mursi, que segue sob custódia militar.
Mansur, presidente do Tribunal Constitucional, foi designado pelos militares para substituir Mursi. Em um breve discurso prometeu "proteger o sistema republicano" e ser o "fiador dos interesses do povo".
Presidente Deposto Mohamed Mursi
A queda de Mohamed Mursi, o primeiro presidente eleito democraticamente da história do Egito, coloca fim a um ano de poder islamita marcado por diversas crises e fortes protestos populares, e abre caminho para uma delicada transição neste país profundamente dividido entre partidários e opositores do presidente deposto.
O golpe militar no país árabe mais populoso do mundo provoca inquietação no exterior. Os Estados Unidos pediram para analisar as implicações legais na importante ajuda militar que concede ao Egito, enquanto a Rússia apelou por moderação a todas as partes.
Já o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, pediu para que um regime civil seja restabelecido rapidamente.
"É preciso restabelecer o quanto antes um governo civil que reflita as aspirações do povo", declarou à imprensa durante uma viagem a Copenhague, acrescentando que a situação continua sendo instável e que apenas se resolverá com a união de todas as forças políticas.
Na praça Tahrir do Cairo, milhares de egípcios celebraram durante toda a noite a queda de Mursi, menos de três anos depois de festejarem no mesmo lugar a renúncia de Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011.
Nesta quinta-feira ainda havia alguns grupos de manifestantes, enquanto os alto-falantes transmitiam música patriótica.
"Vitória para a legitimidade popular", "O presidente deposto pela legitimidade popular", "O Egito está de volta", intitulava a imprensa governamental e independente. Já o jornal Horreya al-Adala da Irmandade Muçulmana ignorou a deposição e falou sobre as manifestações a favor de Mursi.
A situação política se agravou na segunda-feira, um dia depois de grandes manifestações contra Mursi, que deixaram várias vítimas fatais. O presidente, eleito há um ano, era acusado por seus opositores de querer instaurar um regime islamita autoritário a favor de seu movimento, a Irmandade Muçulmana.
Os militares fixaram na segunda-feira um ultimato a Mursi de 48 horas e na quarta-feira o ministro da Defesa, o general Abdel Fatah al-Sisi e novo homem forte do país, anunciou a destituição do presidente e a suspensão da Constituição.
Após o anúncio, as forças de segurança o detiveram e o levaram à sede do ministério da Defesa. Mursi havia afirmado em um vídeo que continuava sendo "o presidente eleito do Egito" e denunciou um "golpe de Estado completo, rejeitado pelos homens livres do país".
Medidas contra a Irmandade Muçulmana
Este desenlace aumenta os temores de novos episódios de violência. Desde 26 de junho, 57 pessoas morreram, 10 delas na noite de quarta-feira em confrontos com as forças de segurança e nos confrontos entre partidários e opositores a Mursi.
O ministério do Interior advertiu que responderá com firmeza aos distúrbios e tanques foram mobilizados nas ruas do Cairo.
Entre outras medidas contra a Irmandade Muçulmana, que chegou ao poder no ano passado após 30 anos de clandestinidade, o exército colocou sob prisão domiciliar a cúpula presidencial e foram emitidas 300 ordens de prisão contra os membros do movimento. Dois de seus líderes foram detidos, Saad al Katatni e Rashed Bayumi.
Uma fonte judicial indicou que também foi emitida uma ordem de prisão contra o chefe da Irmandade Muçulmana, Mohamed Badie.
Um funcionário de alto escalão do exército confirmou a detenção "de forma preventiva" de Mursi, que, assim como Badie e vários líderes do movimento, está proibido de deixar o território egípcio.
FONTE: BOL Notícias
O Exército do Egito depôs o primeiro presidente democraticamente eleito do país, Mohammed Morsi. A Constituição foi suspensa e o chefe da Suprema Corte de Justiça do Egito, Adli Mahmud Mansour, tomou posse nesta quinta-feira como presidente interino do país.
Entenda o que aconteceu:
O comandante-geral das Forças Armadas do Egito, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou em um anúncio transmitido pela TV que a Constituição havia sido suspensa e que o presidente da Suprema Corte Constitucional assumirá poderes presidenciais, na prática derrubando o presidente Mohammed Morsi. De acordo com o general Sisi, o líder da Suprema Corte, Adli Mansour, irá comandar um governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. A mais alta autoridade islâmica do país, o grã-xeque de Al-Azhar, o líder da Igreja Copta, bem como o principal nome da oposição, Mohammed ElBaradei, se pronunciaram todos após o general, dando seu aval para a deposição.
Uma declaração feita no Twitter da presidência citou Morsi como denunciando o anúncio do Exército como sendo um "golpe completo categoricamente rejeitado por todos os homens livres de nossa nação".
Soldados, apoiados por veículos blindados, asseguraram locais importantes da capital, Cairo, enquanto centenas de milhares de manifestantes de oposição e partidários de Morsi foram às ruas.
Por que o presidente foi deposto?
A oposição pública a Morsi, o primeiro presidente democraticamente eleito do Egito, vinha crescendo desde novembro de 2012. A fim de garantir que a Assembleia Constituinte, dominada por seus aliados muçulmanos da Irmandade Muçulmana, poderia concluir a elaboração da nova Constituição do país, ele expediu um decreto concedendo a si mesmo amplos poderes. Após dias de protestos da oposição, ele concordou em limitar o alcance dos poderes que havia se concedido. Mas houve novos protestos ao final do mês quando a Assembleia Constituinte aprovou às pressas uma versão da Constituição - a despeito de um boicote por parte de liberais, secularistas e da Igreja Copta.
Com a crescente oposição, o presidente Morsi expediu um decreto autorizando as Forças Armadas a proteger instituições nacionais e postos eleitorais até que um referendo sobre o projeto de Constituição fosse realizado no dia 15 de dezembro de 2012. Críticos classificaram a medida como uma nova forma de lei marcial.
O Exército retornou aos quartéis após o documento ter sido aprovado, mas semanas depois tropas foram mobilizadas em cidades ao longo do Canal de Suez para conter enfrentamentos entre opositores e correligionários de Morsi, que deixaram mais de 50 pessoas mortas. Em 29 de janeiro de 2013, o general Sisi advertiu que a crise poderia "levar a um colapso do Estado".
No final de abril, ativistas de oposição montaram o movimento de protesto Tamarod (Rebelde). Seu objetivo central era coletar assinaturas para uma petição que se queixava do fracasso de Morsi em restaurar a segurança no país, bem como sua capacidade de restaurar a economia. E pedia a realização de novas eleições. O grupo também organizou grandes protestos de massa para a data de um ano da posse de Morsi. No dia 30 de junho de 2013, milhões de pessoas tomaram as ruas de diversas cidades no Egito.
Presidente Interino Adli Mansur
Os protestos levaram os militares a advertir o presidente Morsi no dia 1º de julho que iriam intervir e impor o seu próprio caminho, caso ele não atendesse às demandas populares dentro de 48 horas e pusesse fim à crise política.
Com a aproximação do ultimato, Morsi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito. Ele avisou que qualquer iniciativa para depô-lo à força poderia lançar o país no caos. "O povo me deu poder, o povo me escolheu por meio de uma eleição livre e justa", afirmou. "Legitimidade é a única maneira de proteger nosso país e de prevenir um banho de sangue, de passar para uma nova fase".
Por que os militares agiram agora?
Após um encontro de líderes políticos, religiosos e jovens, no dia 3 de julho, o general Sisi disse que o povo egípcio vinha clamando por "ajuda" e que os militares "não podiam permanecer em silêncio". O militar afirmou que o Exército havia feito "grandes esforços" para conter a situação e obter reconciliação nacional, mas o presidente não havia atendido "às demandas das massas".
"Os participantes do encontro concordaram com o caminho traçado para o futuro, que inclui os passos iniciais para alcançar a construção de uma sociedade egípcia coesa e que não exclui ninguém e que põe fim ao estado de tensão e divisão", afirmou o general.
A fim de prevenir um contra-ataque desestabilizador por parte de Morsi e de seus aliados da Irmandade Muçulmana, o general Sisi advertiu que os militares e a polícia iriam enfrentar de forma "decisiva" a violência.
FONTE: BOL Notícias